segunda-feira, 4 de junho de 2012

Cosmopolis (David Cronenberg)


Cosmopolis. Pattisnon. Cronenberg.

Quase de certeza que pelo menos um destes três nomes o vão chamar à atenção.

O que me chamou a atenção foi o título. "Cosmopolis". O que significa? Porquê?

E depois vi o trailer.



Acho que não dá para perceber muito bem sobre o que é o filme. Mas uma coisa é certa: agarrou-me imediatamente. Talvez por não se dar a conhecer demasiado. A verdade é que o trailer transmite uma grande exaltação à volta de si próprio. Foi com essa ideia que entrei na sala de cinema. Comecem desde já a desiludir-se: este filme não tem nada de exaltante que o trailer transmite.

Confesso que, depois de um trailer como este, nada me fazia esperar que o filme não fosse mais do que uma longa reflexão filosófica sobre o mundo actual e o ciber-capitalismo. Nada nos salta à frente dos olhos, não há grandes revelações ou revoluções repentinas. Não há acção nenhuma.
 O filme não é mais do que um multimilionário (bilionário? Trilionário? Nunca chegamos bem a perceber, a não ser que gastar milhões para ele é como gastar poucos cêntimos para nós) que decide fazer um corte de cabelo. Esse corte tem de ser feito num barbeiro do outro lado da cidade. É mais difícil do que parece: o Presidente dos Estados Unidos da América está nesse momento na cidade, há um funeral a atravessar as ruas de Nova Iorque e algumas pessoas decidiram manifestar-se contra a situação social actual. Eric Packer, o milionário, atravessa a cidade, apesar da sua segurança estar em risco, e ao longo da viagem vai encontrando diferentes pessoas (sócios, amigos), com quem vai conversando. O carro (uma espécie de escritório móvel) é o principal espaço da acção.

Fiquei extremamente desapontado com o filme. Não é porque estivesse à espera de outra coisa, não sabia o que esperar. Simplesmente não funciona como deveria. É um filme demasiado intelectual que não se preocupa minimamente em tentar atingir o espectador. Toda a conversa gira à volta da situação económica mundial e do ciber-capitalismo. Como os avanços tecnológicos permitem-nos exercer um novo tipo de capitalismo, o ciber-capitalismo. Perante esta realidade futurista, o Homem torna-se um instrumento às mãos do próprio dinheiro, passa a controlar a sua vida com o próprio percurso dos valores monetários. E hoje vivemos na época de mudança para essa realidade, esse futuro. Mas é muito difícil seguir a conversa, o que impede de ter o impacto que deveria ter.

Muito bem realizado, sem dúvida. Visualmente muito apelativo. Boa produção. Ou seja, cinematograficamente, é um muito bom filme sim. Mas nada disso compensa a sua falta de sensibilidade. O filme é feito de diálogos, de nenhuma acção, mas não se preocupa em expressar as suas ideias.

Muito do que acontece no filme vai ter impacto em Eric. É na personagem principal que tudo vai colidir e, ao longo da sua viagem de carro, vamos estudando uma pessoa misteriosa mas cuja personalidade se desenrola à frente dos nossos olhos, mudando bastante do início até ao fim. Talvez o clímax deste filme seja de facto essa mudança, como que uma revelação que o multimilionário tem sobre a vida, sobre o que o rodeia, sobre o seu destino e as suas motivações para viver. Infelizmente, creio que faltou alguém mais experiente no papel da personagem principal, em vez de Robert Pattinson.
O actor tornou-se famoso com a saga Twilight, ao lado de Kristen Stewart. Contudo, não é segredo nenhum que estes filmes têm recebido críticas bastante negativas e a prestação dos actores é vista como medíocre. Cosmopolis vem, portanto, tentar mostrar ao mundo um diferente Pattinson, não o actor principal num filme para raparigas adolescentes mas sim um actor maduro e que sabe representar. A crítica tem sido bastante favorável para ele, como seria de esperar. Pessoalmente, acho que não provou as suas aptidões. É um actor com relativa pouca experiência e é isso que transmite. Ainda é muito cedo para carregar um filme inteiro nas suas costas, duas horas em que aparece todos os segundos. Sem querer dizer que Pattinson não seja um bom actor, não está ainda preparado para um filme só para si.
Se há bons actores neste filme, são Paul Giamatti (esse sim de uma enorme experiência), Julliette Binoche (com um papel pequeno mas que não é esquecida) e até Sarah Gadon (mais desconhecida, que representa a mulher do milionário) nos desperta enorme curiosidade.

Cosmopolis não tem impacto. Apesar dos seus inúmeros diálogos, não atinge o visualizador e nem sequer se esforça para o fazer. É um filme muito bem realizado, com uma boa cinematografia, mas o seu conteúdo não funciona. Tentaram criar uma situação que transmitisse aquilo que o mundo actual está a transformar-se, mas em vez disso confudem-nos.

O fim... Não vou revelar nada, mas é um fim em aberto. O que está muito na moda, mas absolutamente desnecessário neste filme.


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